terça-feira, 18 de novembro de 2014

Grupo do Mês - RONDA DOS QUATRO CAMINHOS

30 Anos a recriar as tradições musicais portuguesas celebrados com um concerto no Teatro São Carlos em Maio de 2014.

Fonte:http://www.rtp.pt/antena1/?t=Disco-A1-Ronda-dos-Quatro-Caminhos-Tierra-Alantre.rtp&article=7735&visual=10&tm=2&headline=14

A imponência do Teatro Nacional de S. Carlos deixa qualquer um impressionado. 
A Antena 1 esteve lá para transmitir o concerto comemorativo dos 30 anos da Ronda dos 4 Caminhos.
Ver primeiro o palco vazio e, mais tarde cheio com a Orquestra Sinfónica Portuguesa, o Coro do Teatro de S. Carlos, dois grupos corais alentejanos e mais alguns convidados da Ronda, foi uma experiência marcante.
Do seu posto de reportagem, Ana Sofia Carvalhêda registou alguns desses momentos.












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Uma viagem musical entre o Minho, Trás- os- Montes, e Galiza, com a Orquestra Sinfónica Portuguesa, o Coro do Teatro de São Carlos e muitos outros amigos da nossa música....
Ana Sofia Carvalhêda foi conhecer o novo disco da Ronda dos 4 Caminhos.

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Ronda dos Quatro caminhos com a Orquestra Sinfónica Portuguesa e o Coro do Teatro Nacional de São Carlos e Amigos Minhotos, Galegos e Transmontanos
"Tierra Alantre"
 
Sai dia 12 de Maio

Minho, Galiza,Trás-os-Montes, eis a geografia desta Tierra Alantre. No momento em que celebra 30 anos de carreira, a Ronda dos Quatro Caminhos reinventa-se numa nova aventura pela música tradicional, desta vez com dois parceiros de excepção: a Orquestra Sinfónica Portuguesa e o Coro do Teatro Nacional de S. Carlos que, pela primeira vez na sua já longa história, aceitaram o desafio de trabalhar, interpretar e gravar um repertório nascido fora da música erudita.
Sucessor de Terra de Abrigo, o disco que há uma década marcou encontro entre o cante alentejano e o som de uma orquestra, Tierra Alantre prossegue essa busca de um cruzamento de linguagens entre a música de tradição oral e a tradição da música escrita. Para este novo encontro, o grupo convocou ainda uma mão cheia de amigos das regiões por onde trabalhou. O resultado é uma reunião de quase 140 músicos à volta de uma colecção de 12 temas em que o português, o galego e o mirandês se confundem nas vozes com a mesma naturalidade com que, desde sempre e ainda hoje, a música e a cultura popular confundiram as linhas administrativas que dividem territórios. 
Porque… “ Nas tradições, nos amores, na vida do dia a dia, na língua, a fronteira não separa, une as pessoas.
Os costumes aqui têm um pormenor, além outro, as palavras ali dizem assim, acolá diferente, ou mesmo nós um dia de uma maneira, outro de outra, conforme estamos mais tempo num lugar, atrás dos campos ou do coração, assim é o nosso falar, cá nos entendemos entre nós todos.
Também as cantigas aqui são de quem as canta, não têm pátria nem autor, encontramo-las nas mais diferentes aldeias do Minho, da Galiza, de Trás os Montes, ou nas terras de Zamora ou Avilez, ou mais longe ainda, que as canções vão e vêm no vento ou na alma das gentes, vá-se lá saber.
Faz anos apareceu a telefonia, iluminou a solidão das noites, trouxe cantigas, algumas ficaram nossas, a melodia decora-se bem, a letra não há como escrever, versos temos nós muitos por aqui.
Trinta anos e alguns discos depois assim continuamos, às voltas com a música tradicional, com a poesia e com a cultura popular, muitas vezes com os instrumentos regionais, outras não, outras ainda misturando, reencontrando, mas sempre com a emoção dos primeiros acordes e das primeiras gravações. E não houve como evitar um brilho nos olhos quando ouvimos uma flauta de tamborileiro tocar com a Orquestra Sinfónica Portuguesa “.

RONDA DOS QUATROS CAMINHOS


António Prata – guitarra clássica, bandolim, bandola, banjola, viola braguesa, coro
Carlos Barata – acordeão, bandolim, banjola, caixa, almofariz, segunda voz, coro
João Pedro Oliveira – voz solo, guitarra, coro
Mário Peniche – baixo 
Pedro Fragoso – piano, viola braguesa, coro
Pedro Pitta Groz – bateria, timbalões populares, caixa, percussões várias, segunda voz, coro

E ainda os membros eméritos:

Pedro Marques – baixo acústico
Vasco Pearce de Azevedo – guitarra, coro
Orquestra Sinfónica Portuguesa e Coro do Teatro Nacional de S. Carlos dirigidos pelo maestro Vasco Pearce de Azevedo



O ALINHAMENTO

1. Cego Andante
Popular |Arranjo, orquestração e harmonização do coro - Pedro Fragoso
2. La Herba Encantada
Popular | Arranjo e orquestração - António Prata
3. Achegate a Mim, Maruxa (Cantar Galego)
Letra Popular | Música José Afonso
Arranjo, orquestração e harmonização do coro - Carlos Barata
4. La Lhoba Parda
Popular | Arranjo e orquestração - Pedro Pitta Groz
5. Terras de Feiticeiros
Popular | Letra de António Prata | Arranjo e orquestração - António Prata
6. Fiadouro
Popular | Arranjo e orquestração - Pedro Pitta Groz
7. A Roupa do Marinheiro
Popular | Arranjo e orquestração - António Prata
8. Pur Baixo de la Punte
Popular | Arranjo, orquestração e harmonização do coro - Vasco Pearce de Azevedo
Canto Gregoriano Kyrie XI (Orbis Factor) Sec. xiv-xvi
9. Mimosa Flor
Letra de Xavier de Magalhães e Alberto Barbosa, com quadras populares
Música de Raúl Portela
Arranjo e orquestração - António Prata
10. Nunca Fui Cantador
Popular | Arranjo - António Prata | Orquestração - Pedro Pitta Groz
Harmonização do coro - Carlos Barata
11. Quetobia Patorra
Popular | Harmonias tradicionais minhotas do coro
Arranjo e orquestração - Carlos Barata
12. Mirandum (Instrumental)
Popular | Arranjo e orquestração - Pedro Pitta Groz


OS CONVIDADOS

Las Çarandas
Cantadeiras do Vale do Neiva
Armando Possante – voz solo no canto gregoriano
Beatrix Schmidt – harpa celta e de concerto
María Xosé Lopez – sanfona
Pedro Almeida – flauta de tamborileiro
Sara Vidal – voz solo em Cego Andante e Fiadouro
Ricardo Santos – gaita de foles galega e mirandesa, ponteira
Xico de Carinho – harmónica


TIERRA ALANTRE POR AMADEU FERREIRA*

"Mergulhar até à raiz onde se alimenta a dignidade de um povo, trazê-la depois até à superfície, onde possa florir em todo o esplendor de sons e de palavras que cristalizaram a magia do tempo longo e eternizaram momentos de uma vida que só por milagre chegou até nós, eis o desafio que a Ronda dos Quatro Caminhos nos propõe.
A Tierra por onde encaminham os nossos passos Alantre, leva-nos ao encontro de uma gente que, nas asas do seu canto e das suas línguas – o galego / português e o mirandês / astur-leonês - nos dá o melhor de si mesma, na ronda por caminhos que a história calcetou com sucessivas camadas de um saber que nos foi fazendo quem somos, onde a grande música espreita à esquina dos mais simples gestos e nos chega por caminhos que mal parecem sustentar a espessura dos passos, saber depurado, força e senhas de não desistência.
Quem se lembraria de assentar a Orquestra Sinfónica Portuguesa sobre uma ponte, onde mais forte é o eco da corrente, de dilatar a voz das lavadeiras da ribeira com o Coro do Teatro Nacional de São Carlos, de acompanhar os rebanhos transumantes serra acima, pelas canadas onde os pastores superam os reis em coragem e sabedoria, de despertar adormecidas magias ou, tão só, lembrar-nos que os pobres continuam a bater às portas em busca de pão e de rumo na sua caminhada e que os mistérios são um poial onde devemos continuar a assentar a nossa busca de sentido no alto mar da vida, pela dignidade do trabalho, deixando-nos a música erguida como pilar de resistência e como bálsamo a afiada faca das palavras?
A viagem a que nos convidam, tierra alantre, atravessa as Terras de Miranda, volteia por terras de Trás-os-Montes, abraça o Minho e as terras galaicas. Sempre a terra firme a cimentar um contínuo cultural e a sustentar as asas do convite a uma visita diferente, quer nos caminhos a percorrer quer no jeito de lhe entregar os passos, pois foi a terra que fez as gentes e por elas foi conformada, numa geografia que só nas culturais curvas de nível abre as janelas onde deixa assomar a sua alma.
Já no seu nome, a Ronda dos Quatro Caminhos remete-nos para as encruzilhadas, esses locais onde a energia se concentra e aflora à superfície como mistério a respeitar. O número quatro acolhe também a ideia de totalidade, que pretendem abarcar e está bem presente no título este seu trabalho.
Quando ouvires estas melodias, caminha dentro delas, pois dizem aquela que é a tua gente e contam a tua própria história, inserida na caminhada colectiva que vamos fazendo para nos erguermos e mantermos dignos e humanos. 
As canções seleccionadas são apenas picos de uma cordilheira de sons e de vidas que, à medida que os conquistamos, sempre outros picos encobrem, num convite à descoberta de um legado que, sendo embora da humanidade, apenas se deixa conquistar numa renovação constante,porque só assim se pode erguer como bandeira deste tempo que é o nosso."

25 de abril de 2014


*Amadeu Ferreira – Escritor, poeta, ensaísta, historiador, tradutor e dinamizador do mirandês, e das tradições das Terras de Miranda.

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